Quando estava em busca de oportunidade no mercado de trabalho, eu ficava preocupado com as perguntas dos entrevistadores das empresas, que por sinal, salvo raríssimas exceções, até hoje (10 anos depois) não me ligaram e nem me mandaram um e-mail sequer para dizer se fui ou não fui aprovado no processo seletivo. Bom, parece que não, né?
Nas empresas maiores, eu era submetido a provas básicas de português, matemática, participava de dinâmicas de grupo, fazia longos testes que procuravam identificar as minhas contradições, etc. Nesses últimos, o processo era cansativo, criterioso e confesso que chegava uma hora em que eu me deixava levar pelo stress, cansaço e acabava marcando a alternativa mais “adequada” nas tais provas de múltipla escolha. Talvez aí o motivo das minhas incoerências e claro, desclassificações.
Além disso, eu percebi que perguntas como “qual a sua principal qualidade?” ou “qual o seu maior defeito?” ou “como você se vê daqui a tanto tempo” eram muito comuns e por conta disso, comecei a me informar sobre o que alguns especialistas em emprego sugeriam em revistas e programas de televisão. Dessa forma eu já tinha algumas respostas na ponta da língua, pois eu sabia que tinha que dizer o que o entrevistador queria ouvir, muito embora, não fosse aquilo que eu realmente sentia, afinal, o que eu queria era trabalhar, aliás, o que eu desejava mesmo era o meu dinheiro no final do mês. Bom, eis aí outro possível motivo para as minhas desclassificações.
Mais tarimbado na arte de ser entrevistado, comecei a procurar empresas que me dessem oportunidade em qualquer área. Assim, eu falava com mais propriedade a respeito das minhas convicções e desse modo consegui trabalhar como vendedor numa loja de roupa (1 mês), depois numa loja de eletroeletrônicos (2 semanas), depois num callcenter (1 mês). No entanto, apesar de ter a oportunidade de já trabalhar pelo dinheiro, eu confesso que toda a empolgação inicial ia por água abaixo quando a rotina de fazer o que não extraía o meu melhor (e nem me instigava a me superar) batia à minha porta: era a hora de pedir a conta. Assim, eu vivia de galho em galho, procurando um “bom emprego” numa “boa empresa”, até que consegui o meu primeiro emprego de Carteira Assinada para fazer o que sempre quis: trabalhar com comunicação e marketing. Foram os 6 meses de mais aprendizado e de mais produtividade que tive na época, porém, de tanto não ter minhas ideias e opiniões validadas e por saber que o que eu tinha que fazer era apenas obedecer e cumprir as metas, condições e obrigações para com a empresa, fiz o que todo trabalhador estressado, frustrado, desmotivado e que odeia o trabalho que desenvolve faz: botar a empresa na justiça do trabalho! Pensa que eu perdi a causa? Sabe de nada, inocente: é muito difícil o empregado perder!
E é assim que a vida segue: de um lado empresas que contratam funcionários que apenas querem o salário fixo no final do mês, mas odeiam o que fazem, ou simplesmente aceitam “qualquer coisa”, pois o importante é “trabalhar”, mesmo que o salário seja pouco – o importante é ser seguro! Por outro, existem indivíduos que foram doutrinados apenas para servir de mão-de-obra de terceiros – esperam a sorte do jabuti para começarem a fazer algo, não importa o que, não importa a onde, mas logo estão arrumando desculpas para faltar ao trabalho ou fazendo manifestações contra a instabilidade da estabilidade que eles mesmos escolheram ter.
No fim, “as empresas” sempre hão de dizer: “não quer trabalhar? Tem quem queira”, dando a entender que quem perde é o trabalhador, visto como mera commodity, que pode ser comprada, trocada ou substituída a qualquer hora, a qualquer tempo, a qualquer preço, tal como o arroz, o leite, o sal, o açúcar, etc. E então, você é uma commodity? Eu fui, oh!
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