Eu andava pelo meio-fio da Getúlio Vargas (uma das principais avenidas de Manaus – AM), o relógio marcava umas 13h e de repente encontrei uma colega que tinha formado na faculdade junto comigo. Na verdade, apesar de nós não sermos muito próximos um do outro, vi que aquele momento tinha sido um dos mais informais que tínhamos tido durante o tempo que tínhamos nos conhecido. Após as perguntas triviais do tipo “oi, tudo bem? Quanto tempo!”, a que conseguiu fazer com que nos aproximássemos e conversássemos por mais tempo foi a “e aí, o que tem feito da vida?”.
Nos tempos da faculdade eu a percebia como uma pessoa fechada e reservada, mas nesse dia, ela talvez estivesse precisando realmente desabafar com alguém: falou que estava decepcionada com o mercado, que não tinha encontrado nenhum emprego decente na área (nós formamos em comunicação), que achava que tinha perdido tempo e dinheiro por ter cursado um curso que em nada contribuiu para o seu crescimento profissional e, enfim, que estava muito frustrada. Por esse e alguns outros motivos estava fazendo uma atividade completamente diferente daquela que aprendera na universidade, pois ela tinha que se virar!
Eu sinceramente sabia que de uma certa forma ela estava certa, pois em tempos anteriores eu também vinha amargurando a triste realidade de estar desempregado e, portanto, conhecia profundamente a frustração de ter passado pela mesma e infeliz experiência que ela. A diferença é que eu estava começando a trabalhar a forma sobre como eu estava me comportando em relação à situação.
Quando ela retratou que no nosso ramo de atuação a oferta de emprego estava baixa, senti, de certa forma, um alívio por saber que eu não era o único que tinha tal percepção, e de fato, muitas empresas não estavam efetivando funcionários com Carteira de Trabalho assinada, não obstante, era evidente que muitos empresários e empreendedores iniciantes precisavam de parceiros comerciais para ajudá-los a se reerguer da crise econômica que naquele ano se alastrava (de forma real ou ilusória) por todo o mundo. Naquele ano de 2008, nós, comunicadores, tínhamos uma enorme oportunidade, não como funcionários que oneravam a folha de pagamento de empresas, mas através da prestação de serviço para elas, e era para isso que eu estava começando a me atentar.
Quando minha amiga perguntou aonde eu estava trabalhando, eu respondi até meio envaidecido: “lá em casa” – eu estava começando a desenvolver o meu trabalho de consultor independente, ou simplesmente freelancer, como muitos preferem. Assim como eu estava começando a atuar como parceiro de alguns microempresários que não tinham condição de empregar ninguém, eu não tinha nenhum funcionário (e até hoje não tenho), mas da mesma forma, eu podia contar com outros parceiros que também tinham a sua rede de contatos e assim, o empreendedorismo passava a se tornar a solução para a falta de emprego.
Não pense você que ser empreendedor é navegar em um mar de rosas, no entanto acho que tem uma certa equiparação com o trabalho de Carteira Assinada. Não é porque você tem um emprego que você vai ter, de fato, segurança e estabilidade. Aí você há de dizer: “ah, mas empreender dá trabalho!” – sim, dá! Dá trabalho trabalhar no que não se gosta? Dá! Dá trabalho estudar para concurso público? Dá!
Dá trabalho ser empregado? Dá! Dá trabalho ser chefe? Dá! Dá trabalho ser patrão? Dá! Dá trabalho fazer o que se gosta? Também dá! Sabe qual a diferença entre um e outro? Está no sentimento de auto realização!
Parece até fantasioso, mas experimente se dedicar a algo que realmente goste e espere para ser recompensado por isso: assim entenderá o que estou falando. Se você acha que seu trabalho (e aqui não me refiro a emprego) deve ser apenas uma coisa chata, estressante e penosa, sinto muito em lhe dizer, mas infelizmente você não sabe de nada, inocente!
Faça, que acontece!
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