Levava uma vida modesta…
Meu salário garantia o pagamento pontual das minhas contas fixas e sempre que sobrava alguma coisa, eu não podia deixar de dar uma investida no vestuário e claro, na minha diversão. Essas últimas, por sinal eram as mais fáceis de honrar, já que eu comprava a prazo no cartão de crédito e, embora vez ou outra ocorresse uns pequenos atrasos, eu conseguia pagar o valor mínimo da fatura.
Certa vez, saindo de um lanche, recebi o troco em algumas moedas, que foram colocadas na minha bermuda de bolso único, que já comportava o celular, a carteira e a chave da minha casa. Distraído, não me toquei que o tal bolso estava furado até que ouvi um cintilar no chão: os setenta e cinco centavos iam rolando pelo chão, 10 centavos pra lá, 25 pra cá, 5 mais adiante…daí pra frente. Meio encabulado da minha atrapalhada, eu me agachava para recuperar as redondinhas, na esperança de encontrar um buraco no chão e assim aproveitar a oportunidade para enfiar minha cabeça. No meio da caça ao troco, me deparei com um papel solitário, que se destacava da folhagem caída da castanholeira: um cheque de 10 mil Reais! Não era possível! Naquele momento a minha timidez se misturou com euforia e pânico. O coração batia mais forte que o surdo da Batucada do Garantido, minhas pernas e mãos tremiam tanto que eu mal conseguia me apoiar. Já na posição de quadrúpede, o nível de adrenalina me consumia de tal forma, que rastejar pelo chão seria a forma mais prática e rápida de me mexer (eu tinha encontrado um cheque de R$ 10 mil!). Procurando manter a calma e agir com total discrição, apanhei o tal cheque e sutilmente recuperei a última moeda, de vinte e cinco centavos.
Em casa, ainda sob a êxtase do tesouro encontrado, pensei no que aquela maravilha poderia fazer na minha vida. Com caneta e papel na mão, comecei a anotar as medidas a serem tomadas para fazer o bom uso da graça a mim concedida pela Fortuna de Maquiavel. Passei a madrugada em claro até finalmente organizar a lista humilde lista de coisas a serem feitas:
- Quitar as dívidas: totalizavam R$ 3 mil
- Dar entrada num carro zero: R$ 3 mil
- Reformular meu guarda-roupa: R$ 1 mil
- Fazer uma merecida viagem de uma semana: R$ 3 mil
Conclusão
A estória acima traduz o comportamento que grande parte das pessoas adotaria ao serem contempladas da noite para o dia com um bom dinheiro. O “muito” ou “pouco” é relativo, já que tal conceito está diretamente ligado ao padrão de vida que o indivíduo tem. O fato é que muitas pessoas se preocupam mais em comprar coisas para o seu prazer imediato do que para uma recompensa mais sólida em longo prazo. Embora o personagem tenha quitado suas dívidas, a aquisição do carro zero vai exigir outros custos não previstos no seu orçamento e padrão de vida inicial, as roupas vão cair em desuso e a viagem vai se encarregar de gastar o resto do dinheiro. No final ele vai voltar à estaca zero e não vai ser difícil que se afunde em mais dívidas por causa do automóvel, já que com seu humilde salário ele mal conseguia se manter.
O fato é que somos condicionados a ganhar dinheiro para gastar dinheiro! Mal o pegamos já tratamos de arranjar um destino para ele. Não estou fazendo apologia à avareza, mas defendo a ideia de que ao invés de concentrarmos todo o nosso poder financeiro no presente, que possamos destinar uma parcela também para o nosso futuro, ainda mais numa situação como essa, de “mão beijada”.
Portanto, caso encontre um cheque de R$ 10 mil pela rua ou se você tiver a sorte de ser um BBB, cuidado para não voltar à estaca zero, como alguns deles já fizeram. Dê um giro de 180 graus em sua vida e não um de 360: o primeiro faz você realmente ser o oposto do que era, o outro traz grandes transformações, porém vai trazê-lo de volta ao que era antes.
Faça, que acontece!
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