Eu, o Executivo Frustrado
Na época que eu procurava uma “chance” no mercado de trabalho através dos jornais classificados (naquela época a internet sequer existia), participei de vários processos seletivos, onde o tal recrutador perguntava coisas a respeito do meu principal defeito, da minha principal qualidade, se eu gostava de trabalhar em equipe, etc. e hoje, enquanto escrevo este artigo, passou um filme na minha memória e concluí que coincidência ou não, boa parte dessas “oportunidades” era para trabalhar com vendas. Não que seja o seu caso, mas deixo registrada aqui a minha humilde experiência!
Eufemismo para vendedor
Atualmente entendo que algumas das tais empresas, por saber que boa parte das pessoas não gosta de ser chamada de “vendedor” passaram a criar alguns eufemismos para o cargo, tais como consultor, consultor de marketing, consultor de negócios, assessor comercial, consultor executivo etc. No final era tudo a mesma coisa – trabalhar com vendas – e isso me deixava um tanto desconfortável pelo fato de eu me enquadrar na estatística daqueles que apesar de “adorar desafios” (sim, eu lia nas revistas especializadas que era isso que as empresas queriam ouvir), preferiam a estabilidade de um emprego com hora certa para entrar, para sair e ter um salário fixo de carteira assinada no final do mês.
Status
Eu achava fantástica aquela ideia de ter que ir aos treinamentos vestido de terno e gravata (ainda que fosse na super-hiper-mega-ultra-quente cidade de Manaus) e lá eu me reunia com os diversos colegas nos nossos treinamentos motivacionais das empresas, que mais tarde receberiam um aporte financeiro para que nós pudéssemos trabalhar como representantes das mesmas. Pois é, eu estava tão empolgado com aqueles conceitos do mundo corporativo, cujas palavras em inglês (como marketing, networking, brainstorm, holding, prospect, target, etc.) pareciam me transpor para a realidade que eu tanto lia nas revistas do universo corporativo! Uau, eu era jovem e era aquilo que eu queria para mim!
Entrando em campo
Mal eu sabia que a palavra “desafio” tinha um significado tão forte. Passada a fase da teoria e motivação adquirida na gelada sala de aula com ar condicionado, era hora de entrar em campo sob o escaldante sol manauara com a capa de super herói (o paletó) e a arma em punho (pasta de executivo com o portfólio da empresa), com algumas cartas na manga e na mente. Ah, mas como era complicado ter que empurrar produto para quem não queria. Para piorar, a empresa defendia a política de que não era adepta de propaganda, pois “não era preciso”, uma vez que a principal arma de divulgação era o “boca-a-boca”. Então era assim: te vira, caboco!
O povo não quer trabalhar
E foi assim que me enquadrei na estatística dos empresários que dizem que “o povo não quer trabalhar”: embora eu fosse jovem, pedi para sair por realmente não me identificar com aquele “desafio”. Na verdade, hoje reconheço que recusei várias “oportunidades” por simplesmente não acreditar e nem gostar trabalho a ser desenvolvido, já que o que eu queria mesmo era o dinheiro e não o trabalho em si, embora eu também já tenha adquirido a maturidade de enxergar que é isso que boa parte da massa faz: trabalha na realização dos sonhos dos outros, menos em prol daquilo que elas realmente almejam para si e talvez por isso eu seja até hoje desempregado.
Mas pensando bem, ser desempregado não é tão ruim assim. Depende do seu ponto de vista!
Faça, que acontece!
Confira também:
Cuidado com promessas fáceis
O sucesso dos outros e a sua tolice (21/10)
Mercado de trabalho – meu erro #1
Mercado de trabalho – meu erro #2
Mercado de trabalho – meu erro #3
Como dizer não sem culpa